Candeia – O Poeta da Dignidade do Samba

Antônio Candeia Filho, conhecido como Candeia, nasceu no dia 17 de agosto de 1935, no Rio de Janeiro. Criado no bairro de Oswaldo Cruz, cresceu imerso no universo do samba, influenciado pelo pai, um policial que também era músico e seresteiro. Desde pequeno, frequentava as rodas de samba e as festas de terreiro, absorvendo a essência da cultura afro-brasileira.

Ainda jovem, ingressou na Portela, sua escola do coração, onde se destacou como compositor. Em 1953, com apenas 17 anos, venceu o concurso de samba-enredo da escola com "Seis Datas Magnas", iniciando uma trajetória brilhante no carnaval. Sua relação com a Portela sempre foi de amor e respeito, ajudando a consolidar o prestígio da azul e branca de Madureira.

Além do talento para o samba, Candeia também seguiu a carreira policial. No entanto, em 1965, um episódio mudaria sua vida para sempre: ao se envolver em uma discussão no trânsito, foi baleado e ficou paraplégico. A limitação física, no entanto, não calou sua voz nem seu talento. Pelo contrário, tornou-o ainda mais engajado na valorização do samba tradicional e na luta pela cultura negra.

A partir dos anos 1970, Candeia passou a questionar a crescente comercialização do carnaval e o afastamento das escolas de samba de suas raízes. Em resposta, fundou o Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, uma agremiação que buscava resgatar o espírito comunitário do samba e enaltecer a cultura afro-brasileira. Seu ativismo e suas composições refletiam um profundo orgulho da negritude e da ancestralidade, como em "Dia de Graça", onde exalta a importância da resistência e da dignidade.

Seu repertório inclui obras-primas como "Preciso Me Encontrar", imortalizada por Cartola e popularizada por Marisa Monte, "Deus Está Comigo", "Testamento de Partideiro", "Sublime Perdão" e "O Mar Serenou", eternizada na voz de Clara Nunes. Suas letras traziam mensagens de orgulho, religiosidade e defesa do samba como patrimônio cultural do povo negro.

Candeia faleceu precocemente em 16 de novembro de 1978, aos 43 anos, mas sua obra continua viva, inspirando gerações de sambistas e amantes da cultura popular. Seu legado é a resistência, o respeito à tradição e a certeza de que o samba não é apenas música, mas um símbolo de identidade e luta.

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