Elton Medeiros – O Poeta das Melodias Eternas

Há sambistas que passam, e há sambistas que ficam. Elton Medeiros foi daqueles que ficaram. Ficou em cada acorde bem pensado, em cada verso carregado de poesia, em cada melodia que traduz a alma do povo. Sua música não era apenas som; era sentimento, verdade e história.

Nascido em 22 de julho de 1930, no bairro da Glória, no coração do Rio de Janeiro, Elton cresceu ouvindo os sons da cidade – o apito do trem, o burburinho das feiras, os batuques das rodas de samba. Era um tempo em que o samba ainda resistia nas esquinas, nos quintais, nos morros. E foi ali, na cadência da vida simples, que ele descobriu sua vocação: fazer do samba a sua morada eterna.

Na década de 1950, mergulhou de vez na boemia carioca e encontrou seu lugar entre gigantes. Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Paulinho da Viola, Guilherme de Brito – com eles, dividiu sonhos, copos e melodias. No histórico Zicartola, ponto de encontro da resistência cultural do samba, suas composições ganharam vida e foram entoadas por vozes que viriam a se tornar lendas.

E que sambas nasceram dessa trajetória! Com Paulinho da Viola, compôs "O Sol Nascerá", um hino de esperança e resiliência, que segue iluminando corações geração após geração. Com Cartola, criou "Peito Vazio", um lamento profundo que traduz a dor da saudade e do amor perdido. Com Nelson Cavaquinho, deu ao mundo a magistral "Mineira", trazendo na melodia e nos versos a marca da boemia e do destino dos apaixonados. Com Zé Keti, assinou "Mascarada", um samba que flutua entre a ilusão e a realidade, refletindo as contradições do amor e da vida.

Nos anos 1960, Elton foi peça fundamental do lendário Conjunto A Voz do Morro, ao lado de Zé Keti, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento e Anescarzinho do Salgueiro. Foi um tempo de luta e afirmação do samba autêntico, um tempo em que a música de morro ainda precisava ser defendida contra o esquecimento e o preconceito. Através do álbum "Roda de Samba", ajudou a consolidar um legado que jamais seria apagado.

Mas Elton Medeiros não era apenas um grande compositor. Ele era um mestre da melodia, um artesão das harmonias sofisticadas, um poeta que traduzia a alma do povo com sensibilidade rara. Seu canto era suave, mas profundo; sua presença era discreta, mas gigantesca.

Mesmo com toda sua grandiosidade, manteve-se sempre fiel ao samba raiz, longe dos holofotes, longe das modas passageiras. Elton fazia música por amor, não por vaidade. Sua obra foi um presente para o mundo, um presente que ele entregou com humildade e devoção.

No dia 4 de setembro de 2019, aos 89 anos, o mestre nos deixou. Mas não se foi. Porque quem canta a vida, nunca morre. Suas melodias ainda ecoam nos terreiros, nas rodas de samba, nas vozes de quem sabe que o verdadeiro samba é eterno.

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