José Bezerra da Silva ou simplesmente Bezerra da Silva não cantava apenas samba. Ele cantava a vida como ela é, sem filtros, sem retoques, com a verdade crua das ruas. Nascido em 23 de fevereiro de 1927, no Recife, encontrou no Rio de Janeiro o cenário perfeito para sua arte: os morros, os becos, as vielas, onde a luta e a esperteza andam lado a lado.
Antes de ser sambista, foi operário, pedreiro, pintor, percussionista. Conhecia a dureza da vida e fez da música sua trincheira. Com uma voz inconfundível e um jeito debochado, virou o porta-voz do povo esquecido, dos trabalhadores sofridos, dos malandros conscientes que sabiam que esperteza não é crime, é sobrevivência.
Nos anos 1970 e 1980, sua voz se espalhou pelo Brasil com sambas que eram verdadeiros manifestos das comunidades. "Malandragem Dá um Tempo", "Candidato Caô Caô", "Meu Pirão Primeiro", entre tantos outros, eram mais que músicas: eram recados, crônicas afiadas sobre quem manda, quem obedece e quem se vira.
Bezerra não precisava inventar histórias, ele apenas traduzia o que via, o que sentia, o que sabia. Resgatou compositores anônimos das favelas e deu voz a quem não tinha. Fez do samba um escudo contra a opressão e uma arma contra a hipocrisia.
Faleceu em 17 de janeiro de 2005, mas sua voz não se calou. Ela ainda ecoa em cada canto onde o povo resiste, onde a favela segue firme, onde a malandragem do bem segue esperta. Bezerra da Silva não foi apenas um sambista. Ele foi, e sempre será, a própria voz do morro.